quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Rússia envia porta-aviões para o Mediterrâneo, EUA querem aviões em terra na Síria


Segundo algumas fontes, terão sido dois aviões russos Sokhoi SU-24 a lançar ataque que atingiu coluna com ajuda humanitária.
A ONU não confirmou que o ataque à sua coluna tenha sido aéreo OMAR HAJ KADOUR/AFP
Ao mesmo tempo que em Nova Iorque se discute como salvar o cessar-fogo na Síria, Moscovo anuncia que vai enviar um porta-aviões para o Mediterrâneo para apoiar a sua presença militar no país.
“Nesta altura, seis navios de guerra e três ou quatro navios de apoio fazem parte da nossa frota no Leste do mar Mediterrâneo”, declarou o ministro russo da Defesa, Sergei Choigou, citado pela AFP. “Para reforçar as nossas capacidades militares, vamos acrescentar-lhe o nosso porta-aviões Almirante Kouznetsov”.
Por seu lado, o chefe da diplomacia dos EUA apelou a que os aviões fiquem em terra “para permitir aliviar a situação e dar uma hipótese a que a ajuda humanitária seja distribuída sem impedimentos”, avança a BBC. John Kerry afirmou durante o seu discurso na ONU que o futuro da Síria “está por um fio”, e expressou as suas dúvidas sobre se os governos de Moscovo e Damasco estarão dispostos a respeitar a trégua.
As declarações surgem depois de altos responsáveis americanos terem afirmado, sob anonimato, que dois aviões de guerra russos sobrevoavam a zona no exacto momento em que uma coluna de ajuda humanitária da ONU foi atacada, perto de Alepo, na segunda-feira – uma acusação que Moscovo rejeita.
As mesmas fontes afirmaram à Reuters ter recebido informações dos serviços secretos dos Estados Unidos que os levaram a concluir que o ataque foi lançado por dois aviões russos Sokhoi SU-24. A BBC cita também dois altos responsáveis para acrescentar que o ataque foi demasiado sofisticado para ter sido da autoria do Exército sírio. E fontes do New York Times adiantam que apesar de ter informação sobre a intervenção russa, a Administração americana quer dar tempo e espaço a Moscovo para fazer a sua investigação e apresentar as suas próprias conclusões sobre o bombardeamento.
À margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, o porta-voz do Ministério russo dos Negócios Estrangeiros rejeitou as acusações e afirmou aos jornalistas que o Governo americano “não tem factos” que as apoiem. “Não temos nada a ver com a situação”, declarou.
Horas antes, o Governo russo tinha argumentado que a coluna de ajuda humanitária não foi atacada a partir do ar. “Não há crateras e o exterior dos veículos não apresentam o tipo de danos criados pela explosão de bombas lançadas do ar”, lê-se numa declaração do Ministério da Defesa, citada pela BBC.
A ONU indicou por seu lado “não estar em posição de determinar se [os ataques] foram aéreos”. Mas um alto responsável americano garantiu ao NYTque “não há indícios de que tenha sido outra coisa que não um ataque aéreo”. Em todo o caso, Moscovo não negou que estava a seguir os veículos (foram emitidas imagens recolhidas por drones), mas afirmou ter-lhes perdido o rasto quando entraram em território rebelde.
Os alvos dos mísseis foram um armazém usado pelas organizações humanitárias e uma coluna de 31 camiões que transportavam produtos de assistência urgente – alimentos, antibióticos, material cirúrgico – para 78 mil pessoas numa localidade cercada da província de Alepo. Dezoito veículos ficaram totalmente destruídos. Para além disso, o chefe do Crescente Vermelho Sírio, Omar Barakat, e cerca de 20 civis perderam a vida, adiantou aquela organização.
Para o porta-voz da Casa Branca, Ben Rhodes, “só duas entidades podem ser responsáveis, ou o regime sírio, ou o Governo russo”, cita a estação britânica. “Em qualquer dos casos, responsabilizamos o Governo russo pelos ataques nesta zona”, uma vez que estava obrigado pelo acordo de cessar-fogo a controlar as manobras do Exército sírio (os dois países estão envolvidos no conflito, apoiando dois lados opostos, mas combatendo um inimigo comum: o autoproclamado Estado Islâmico).
Na sequência do ataque, que a provar-se intencional seria classificado como “crime de guerra”, as Nações Unidas decidiram suspender a distribuição de ajuda no país até verem garantidas condições mínimas de segurança.
Fazer chegar o auxílio às populações cercadas era já um dos pontos do acordomais difíceis de pôr em prática, com os Estados Unidos a acusar o regime sírio de dificultar a missão das agências humanitárias e a pressionar publicamente a Rússia. Os outros pontos prevêem uma colaboração das duas potências no ataque aos extremistas e trabalhar para restaurar a confiança de forma a retomar as negociações para a paz, numa guerra que leva já cinco anos.
Postado por Carlos PAIM