A namorada de Michel Goldfarb Costa, suspeito de atirar a esmo e roubar quatro carros na manhã de segunda-feira (9), demonstrou perplexidade ao saber das ocorrências em que ele estaria envolvido, segundo o delegado Dalmir de Magalhães, do 26º Distrito Policial, no Sacomã, na Zona Sul de São Paulo. Ela conversou com policiais na tarde de segunda na casa em que ele mora em Cotia, na Grande São Paulo. O nome dela não foi divulgado.
“A namorada se mostrou perplexa com a conduta [do namorado], mas alegou que ele não é uma pessoa voltada para a violência”, disse Magalhães. De acordo com o delegado, ele é uma pessoa “distante da família”.
Costa tem uma arma em seu nome, mas a polícia não encontrou o porte. “Em tese ele saiu [de casa] armado, porque a arma dele não estava lá”, disse o delegado. Segundo a polícia, os projéteis, calibre 380, encontrados nos locais onde foram dados tiros contra as vítimas, são compatíveis com a descrição da arma registrada no nome dele. O suspeito saiu da sua residência com um colete à prova de balas e deixou para trás carteira e celular.
A polícia acredita que um “surto psicótico” tenha motivado a conduta do suspeito. A namorada dele disse que Costa não toma remédios controlados.
Quatro pessoas já o reconheceram por foto. Segundo as investigações, ele bateu em pelo menos dois carros e um ônibus, baleou um homem na barriga e feriu outro de raspão.
Na tarde desta segunda, o fisioterapeuta Sidnei Fernandes, proprietário do Ford Ka roubado na segunda-feira, compareceu ao 26º DP para prestar esclarecimentos. Ele foi abordado no semáforo próximo ao cruzamento da Rua Vergueiro com a Avenida Presidente Tancredo Neves, depois do criminoso bater com um Meriva no Fiat Brava e no Fiat Idea. De acordo com Fernandes, o suspeito estava com a “feição pálida, bem atordoado e, aparentemente, descontrolado”.
O criminoso pediu apenas para que ele deixasse o carro no momento em que parou em um semáforo. Ele disse que o homem estava sujo de sangue, principalmente nos braços. “A maior mancha de sangue estava no ombro esquerdo.”
Para o fisioterapeuta, a hipótese de que o suspeito tivesse em surto não justifica sua conduta. “Se todos nessa cidade, que tem mais de 20 milhões de habitantes, tiverem um surto psicótico e saírem na rua atirando imagina como vai ser”, declarou. O Ford Ka foi encontrado batido, na região do Parque Dom Pedro, no Centro da capital.
Manhã de segunda
A mulher contou à polícia que tudo começou às 4h desta segunda. Costa era conhecido por ter vários cachorros e eles começaram a latir nesse horário. O casal havia ficado acordado até tarde vendo filmes. O administrador pode ter ficado com medo de que a casa tivesse sido invadida. "Ele teve uma briga recente com o vizinho em relação ao barulho [dos cães] e teria sido ameaçado", declarou o delegado Marcos Antônio Manfrin, responsável pelo caso. "Quando a namorada dormiu, ele [Costa] saiu de casa deixou tudo aberto, as portas abertas. Ele saiu de carro, vestindo o colete e com a arma em punho."
Prisão temporária
A Polícia Civil pediu na madrugada desta terça-feira (10) a prisão temporária do administrador de empresas, que aplicava dinheiro na Bolsa de Valores. Entre os motivos alegados pela polícia para pedir a prisão temporária de Costa estão três tentativas de latrocínio, tentativa de homicídio, disparo de arma de fogo e lesões corporais.
O advogado já entrou em contato com a polícia, mas disse não ter entrado em contato com o seu cliente após o ocorrido. Nicolau Aun Junior afirmou ao G1 que vai orientá-lo a procurar a polícia. “A minha orientação é para que ele se apresente”.
De acordo com Magalhães, a polícia faz buscas para tentar localizar Costa e deve ouvir vítimas que tenham sido prejudicadas pelo suspeito em outras regiões da cidade. O motorista baleado na barriga, que passou por uma cirurgia, também deve ser ouvido nos próximos dias, assim como a mulher que estava em um Fiat Brava, que foi atingido por um táxi conduzido por um criminoso. Ela e o seu bebê, de apenas 2 meses, passaram o dia no hospital, mas já voltaram para casa.
'Dia de fúria'
O tenente da Polícia Militar Guilherme Willian Pacheco definiu a ação como um "dia de fúria". Segundo ele, a ação "foge do padrão de um assalto". “Ele em um dia de fúria e loucura teria pego uma arma e um colete e efetuado vários disparos em via pública”, afirmou.
Os policiais descobriram a identidade do suspeito após constatarem que ele é o dono do Corolla encontrado na Avenida dos Bandeirantes, na Zona Sul.
O Corolla, após derrapar, foi visto pela primeira vítima do criminoso, o taxista Elias da Silva, de 37 anos, que levava uma passageira para o aeroporto. Ele parou no semáforo e foi abordado pelo homem armado com uma pistola calibre 380.
Para o tenente, a ação foge do padrão, segundo relato das testemunhas que estiveram presentes durante todo o dia no 26º Distrito Policial, no Sacomã. “Em nenhum momento ele falou 'desce, que é um assalto', como a gente costuma ver. Ele atirou, depois tirava a pessoa de dentro do carro. Foge do padrão de um roubo normal."
Ação
Em alta velocidade, o criminoso que havia roubado o táxi nas proximidades do Aeroporto de Congonhas, na Zona Sul, colidiu com um Fiat Brava na Avenida Presidente Tancredo Neves, próximo da Avenida Nossa Senhora das Mercês. Um Fiat Idea também foi atingido.
"Eu só ouvi a pancada. Foi tão forte que eu pensei que era um caminhão. Só pensava no meu filho”, afirmou David Neves, técnico em instalação de TV a cabo, que dirigia o Fiat Brava. A mulher dele, de 28 anos, e o filho, de 2 meses, tiveram que ser levados ao Hospital Cruz Azul, mas passavam bem. “Minha mulher deve ter uns arranhões, mas está em choque. Meu filho estava na cadeirinha. Eles estão só estão em observação. Está tudo bem.”
Depois da colisão, o criminoso deixou o carro e saiu atirando para todos os lados. Ele baleou o motorista de uma EcoEsport e tentou fugir no carro, mas não conseguiu. Posteriormente, o criminoso atirou contra um Logan. “Acho que ele queria o meu carro para fugir”, disse o engenheiro Ademir Carlos Guerretta, de 61 anos, que ia para o trabalho no Logan. O tiro atingiu o engenheiro de raspão no braço.
O ladrão abordou, então, a professora Ivete Souza Cruz, de 48 anos, que estava no Polo prata. “Ele atirava a esmo. Ele deu um tiro na maçaneta e tentou me tirar com cinto e tudo. Ele me arrancou do carro. Não tinha percebido que ele estava ferido, mas estou com a roupa toda suja de sangue dele”, disse a professora.
À frente, já próximo à Rua Vergueiro, ainda na Avenida Presidente Tancredo Neves, ele colidiu com um ônibus. Para prosseguir em fuga, um Ford Ka foi roubado, com o qual seguiu até o Parque Dom Pedro, no Centro de São Paulo. Nesse ponto, ele roubou um Celta e seguiu até a Ponte da Casa Verde. Depois, desapareceu.
O motorista da EcoEsport foi levado para o Hospital Heliópolis, onde passou por uma cirurgia. Segundo um familiar da vítima, a bala perfurou a barriga e ficou alojada na perna.
Do primeiro crime até a Marginal Tietê, foram cerca de 25 km por ruas e avenidas movimentadas da capital. Foram mais de 20 tiros disparados e duas pessoas feridas. Em nenhum momento, o homem foi perseguido ou parado pela polícia.